O Brasil deixa de ter, a partir desta quarta-feira, os maiores juros reais do mundo. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu reduzir a taxa de 11,25% para 10,25%. Conhecida como Selic, essa é a principal remuneração para quem compra títulos públicos, ou seja, empresta dinheiro ao governo federal.
Além de diminuir os gastos do governo com os juros da dívida, a redução tem efeitos sobre toda a economia. Um dos resultados principais é sobre as expectativas. Quando o governo diminui os juros, deixa claro que está comprometido com uma política expansionista, ou seja, com mais dinheiro em circulação. Isso é um estímulo necessário a setores como o comércio e a indústria que, em tempos de crise, contraem compras e investimentos, temerosos com os resultados das vendas.
Logo depois da reunião do Copom, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú-Unibanco, HSBC, Santander e Real já anunciaram reduções, ainda que tímidas, nos juros para empresas e consumidores.
Diante dos efeitos da crise econômica no país, entretanto, industriais não ficaram satisfeitos com a queda da taxa. Achavam que havia espaço para um corte maior. Um dos resultados da redução nos juros é diminuir a atração de investidores para a renda fixa, que tem, em grande parte, a dívida pública como base, e para os próprios títulos. Esses recursos devem migrar, por exemplo, para as ações das empresas, que compensam o risco com maior retorno. A redução nos juros garante, assim, mais dinheiro para o investimento privado.
O principal argumento do Banco Central para cautela é o cuidado com a inflação. Com mais dinheiro nas mãos dos consumidores e sem aumento correspondente na produção, os preços subiriam. A explicação perde força, entretanto, em tempos de crise. Segundo o IBGE, o número de desempregados já ultrapassou 2 milhões, maior desde 2007. A redução no quadro é sinal de expectativa de diminuição nas vendas, que poderiam ser mantidas se houvesse mais dinheiro no mercado.
Em discurso na última terça-feira, o governador de São Paulo, José Serra, possível candidato à presidência em 2010, fez uma especulação diferente. Segundo ele, os juros são mantidos altos para que a moeda brasileira fique valorizada. Isso porque os juros reais elevados atraem investidores estrangeiros para os títulos do governo brasileiro. Com mais dólares no país, é como se a moeda ficasse mais barata para o Brasil, ou seja, o real fica valorizado. O investimento com retorno alto e seguro foi chamado por Serra de “ciranda da felicidade”.
De qualquer forma, perdemos a nem um pouco honrosa posição de líderes no ranking de juros reais. Agora estamos em terceiro lugar, atrás da China e da Hungria, o que não chega a ser uma posição para se comemorar. Para comparar os retornos possíveis, investidores do mundo todo analisam os juros reais, que resultam da taxa nominal (10,25% no Brasil) menos a expectativa de inflação naquele país. Isso porque quando o investidor for retirar seu dinheiro, no futuro, cada real terá menos valor do que na época da aplicação, já que vai comprar menos bens.
No documento final da reunião desta quarta-feira, está escrito que a decisão foi sem viés. Isso significa que o comitê não deve fazer novas reduções antes do próximo encontro, marcado para 9 e 10 de junho.
“O Brasil deixa de ter, a partir desta quarta-feira, os maiores juros reais do mundo. ”
Vamos que vamos !!! Não somos mais os últimos. O Rubinho Barrichelo deve estar orgulhoso. BRASIL !!!!!
Luciana,
Com essa reduão da SELIC, já vai ocorrer alguma distorção da poupança?
Abraço.
Gustavo, peço desculpa pela demora na resposta. Fiquei sem internet! Há diferentes estimativas de analistas econômicos sobre a comparação entre rendimentos de poupança e renda fixa. O certo é que alguns investimentos já rendem menos do que a caderneta. No jornal O Globo de quinta-feira fala-se que isso acontece em fundos com taxa de administração igual ou maior a 1,5% ao ano. A estimativa é do matemático José Dutra Sobrinho. Segundo a mesma matéria, para o pequeno investidor a taxa chega a passar de 4% ao ano. Já em O Estado de S. Paulo de hoje, o administrador de investimentos Fabio Colombo afirma que um fundo de investimento consegue ter rendimento igual ao da poupança com taxa de, no máximo 2 a 2,5% ao ano. Os analistas concordam que a mudança da caderneta agora tem prazo: ela deve ocorrer antes da próxima reunião do Copom, marcada para daqui a 40 dias. Isso se o governo quiser evitar que os investidores migrem em massa para a poupança.
Será que um governo Serra tem coragem para mexer na relação juros – câmbio – inflação – ciranda financeira???
A direita paulistana como todo seu conservadorismo prefere o Serra à Dilma, pois tem medo do PT e de uma participação crescente do Estado na economia.
Porém, entrevistas como essa do Serra abrem espaço para pensar em mudanças estruturais no status quo em um governo do PSDB.
Porque a taxa de administração de fundos varia tanto?
Não seria o caso de diminuir o máximo esta taxa para que o rendimento fique mais atrativo do que a poupança? Esta taxa pode a critério de cada instituição não ser cobrada?
A taxa de administração é determinada por cada banco e varia, entre outros fatores, com o valor e o tipo de investidor. É o que o banco cobra por ser intermediário no processo.O fato de ela ser alta reflete claramente a concentração do sistema bancário, com poucas grandes empresas. O Estadão de ontem citou um especialista, que pediu para não ser identificado, que acredita que o governo pode adiar um pouco a alteração das regras da poupança exatamente para forçar as instituições financeiras a reduzir as taxas de administração. Assim, os fundos voltariam a ser atraentes. Há um risco, entretanto, para o governo, nessa pressão: os fundos são compostos principalmente por títulos públicos, de tal forma que uma migração para a poupança poderia prejudicar o financiamento da dívida pública. Esse fato, conhecido pelos bancos, pode tornar essa ameaça do governo pouco crível.
Confesso que me surpreendi, positivamente, ao finalmente ler seu blog!
Está ótimo, sempre atualizado e o mais importante: de fácil leitura.
Sobre o post: é bom saber que, mesmo “aos trancos e barrancos”, a coisa está andando no país.
Abraço e parabéns pela nova empreitada!
luciana gostaria de saber o que lula diz a respeito da taxa basica no brasil ser alta.
Claudia, de vez em quando o presidente faz declarações sobre o alto custo do dinheiro no Brasil. A última que consegui recuperar foi no dia 19 de maio, em seu programa semanal de rádio “Café com o Presidente”. Ele disse que a equipe econômica vai “reduzir a taxa de juros, sobretudo a taxa Selic, porque a crise econômica, o controle da inflação e a estabilidade financeira do Brasil permitem que ela reduza” Disse ainda que “reduzindo a taxa básica, os outros juros vão reduzir”.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse hoje que o crédito recupera-se aos poucos no país, mas que ainda não está no nível desejado. Segundo ele, “a taxa de juros está caindo, mas ainda não caiu o necessário, e deverá cair mais para que o crédito seja alcançado para aqueles que precisam disso”. A afirmação foi feita em reunião no Palácio do Plano, da qual também fazia parte o presidente.
luciana obrigada pela atençao, vou continuar acompanhando as noticias